Wednesday, March 02, 2005

Prefácio

Este é um livro sem pretensões de obra-prima, Estes 11 Capítulos apenas servem para comungar com todos aqueles que se revejam nas palavras escritas dos poemas, quem não gostar, simplesmente poderá virar-se para outro lado.

Estas linhas foram escritas em 1997 e 1998, quando eu tinha 17 anos de idade, e como todos os adolescentes tinha problemas (que na verdade não existiam).

A ideia de publicar este livro de poesia num blogue, simplesmente pareceu-me adequada, entrar neste novo mundo digital, sem pretensões a receber dinheiro.
Poder-se-á dizer que é uma prenda, de uma alma acizentada, para todos vós.

Espero que gostem.

Alexandre Amorim Venâncio
Philosophical knots
Philosophical burdens
Philosophical masks
That binds all imagination of seeking
All systems of being
That shows mind diagrams
Reaching levels of despair
Finding that the beyond
Is…

1º Capítulo

Aqui deitado a escrever
Pensando na apocalíptica vida que levo
Não sei bem se contínuo
Não sei bem se esta merda de vida
Terá a subtileza e o engenho de subsistir

As dúvidas e desencontros
porque certezas muitas e encontros nenhuns
São conclusões há muito chegadas e concluídas.
Sei do que gosto mas não me realizo
Sou fraco, pouco inteligente, sobretudo convencido
Não me acho feio
Mas pelo que vejo, interessante e desejado
Nada
Apenas um chato com mania de génio

Sim sou génio
Génio como tantos outros milhões neste mundo
Daqueles de trazer por casa
Que só pensam em si e copiam as incertezas
Dos outros seres génios imaginários
Assim

Sem amigos
Só aquilo que é sentido e não correspondido
Poderei eu continuar?

Esta geração psicadélica
Que quer revoltar-se
Mas não sabe bem contra o quê ou quem
Apenas sozinho e longe
Do mundo de promessas vãs
De adolescência querida

Sou deslocado?
Não
Somos todos assim
Mas só agora é que chegou
A minha vez de ressentimento
Que me tolda o espírito
Mas que me pára no tempo
E não me dá forças para continuar

Oh! Decadência do mundo
A genialidade já não é
O fardo de alguns apenas
Mas de todos os seres geniais que existem

Grito
Grito sim
Mas só sou eu
Não
Não sou
Se eu tivesse vivido há trezentos anos atrás
Seria um pobre
Hoje pobre sou

Pergunto-me se haverá esperança para mim
Se acabará como num filme cor-de-rosa
E que acreditando nestes misticismos renascidos
Quais fénix das cinzas
Me encham o sentimento
(Lamechice)

Mas não, a vida é dura
Não, não, não
Negação do interior ser
Quero ser
Não, não, não
Não sou

AAAAAAAAAAAAAARRRRRRRRRRRRRRRGGGGGGGHHHHHHHHHH!!!

Êxtase atingi neste momento solene
Experiência adquiri, não desabafei
Atingem-me novas culturas
Não pintura, ou escultura, ou nada
É a televisão, amálgamas de ferro de tudo
Que é amálgamas que existem hoje
Está de rastos
De rasto ao ar, de tromba para dentro
Homos casuality
Incerteza é isso incerteza

Farto disto tudo
Da complexidade humana
Sei lá se quero evoluir
Isto está mau
Só aparências, só formalidades
Mas interiormente sou pobre igualmente
Proxeneta de mim próprio
Contra paredes descarregando
Sémen coberto de lamúrias
Já que nem putas apanho

Sem dinheiro
De mão gasta
Feio como um velho
Acudam-me da vida
Da vida menina
Vós
As verdadeiras, as reais
Este conhecimento não meu
Mas da televisión reprimida de los niños como yo

É que já não consigo fazer nada
Nem jogar com aquela esfera de couro
Em que nem me safava mal
Já nem isso

Mundo cruel aí vou eu
Luz do sol ilumina o meu caminho
O caminho para a miséria quase certa
Que é esse o caminho a seguir
Pelos quadradinhos da BD vida.

Ah! . . só surgem mentalmente insultos
Este . . já vos esclareceu bem a vida
Mas isto não há censura
Choque, choque, choque

Velhinhas chocadas escutem
A indignação perversa
Do homem louco e nu à janela
De um apartamento a vinte andares do solo
Gritando
Puta de vida, merda de vida
Caralho para isto tudo
É uma merda viver assim
Cabrões de uma vida devassa e desgastada

2º Capítulo

Ah! Luxúria terrestre
Como é bom
Hoje
À noite
Eu vi-te
Formalidades tão desprezíveis
Passagens modelisticas do cocktail esverdeado
O dinheiro escarrapachado em colecções
Madames e misses
Top-models do não ser
Aparências
É bom marcar-se a sua posição
Interesseirismo do nada

Clique claque
Outro flash disparou
Papparazzi conquista ganha pão
Íntimo normal devassado
Contínua a secreta paixão
Olha!
Chegou agora neste momento
É ele
O grande cabeça de melão
Apesar de ser todo ele cultura
Advoga o contrário dele
Mas mesmo comendo passas gordas
Ele passa o tempo do imaginário
Deixando relógios correndo durante
O tempo do ser e do não ser, que ele é

Percebeste-me?
Clona-o
Vive-o
Clona-o
Clonar!
Está tão in
Lembrei-me agora do ser clonado
É ele o ser real?
Quem diz que não?
Éticos imorais?
Será que ele é?
Colocar-se-á ser?

Falta-me inspiração
O ser deixa-me
Mas bombom
Troca-me as voltas
Volta para o caixão e cai
Nosferatu volta

Olha ali na TV isto só visto
Soca o homem melão e torna-se herói da malta
Acabou de ser prensado
A imprensa gabou-o
Agora acabaram os flashes
Escondido novamente
Máquina fotográfica em punho
Rochas ultrapassadas
Chuva, calor, frio
Nada o detém
Ídolo dos paparazzi
Ele é o incógnito
Tirou diversas fotos
Mas destas poucas existem
Tão poucas que até dinheiro valem
Aquela coisa menor que sabemos

Mas serve para ser novo
Novo novamente, eterno
Fotograficamente falando, claro
Ele de riste encontra a sua dama
E o meu paparazzi predilecto
Lá estava para captar o sono
Tão dourado dos dois anjinhos

Não é tão bonito
O mundo está melhor
O sol, a chuva
Só evas me escasseiam
Não escasseiam, apenas não existem
E lá voltamos ao ser secreto

É ele sim
O ser minguado
O celeste ser eu
É ele que me seduz
Ela nada me conduz
Se ela me conduzisse?
Queira eu safado perverso
Cala-te paparazzi
Sei que estás aí, mas cala-te
Apenas dispara
O céu espera-te
Revistas aí vou eu
Desiludam-se que eu sou nada

Sintam o poder dele
Ele volta
Sangue devora
Ávido do vermelho líquido
Ai é tão bom não é
Poder enorme e eterno
Fecha-me e devora-me com fragor
Fecha o ser dominante em mim
O perverso.

3º Capítulo

Claro que nunca mais a vou ver na vida
Mas não importa
Ela fez algo de importante por mim
Talvez seja a pessoa a quem me sinto mais grato
No fim de contas
Deu-me o que tinha falta

Linda, linda
Linda mas não para mim
Enfim recônditos laços
Esquecidos para sempre
Amanhã levarei outra rasteira
E não me lembrarei dela nunca mais

Mas este dia não foi de rosas
Porque são as pessoas tristes
Porque será
Que o mundo está assim
Isto é cada vez mais comercial
Só dinheiro
Consumismo
Desprezo pelas pessoas
É indelicado ser delicado hoje
Impossível

Até estou a detestar-me
Não consigo escrever em condições hoje
Sei porquê
É porque o interior não sofre
Infinitamente mal
Cada vez mais acredito
O que move a caneta eu poética
É a dor não o humor
O sofrimento e não felicidade
A utopia do ser que não se é

Por isso me escapa a inspiração
Estes versos alegres demais
Pouco ricos
Mas ainda bem
Pode ser que nunca mais escreva
É bom sinal

Dobrem pela morte do sofrimento
Dobrem sinos tocados por
Imaginem
Donzelas vestidas de nu
Tiritando de frio
E que vai aquecê-las
Eu não que já lá está alguém

Obra de arte maliciosa
Estou aqui à espera
Terrena morte
Ilusão do sonho
Ideias desconexas
Surgem metafisicamente

Eu, olá, chegou, criou
Riu, lembrou, sozô
Não vêem nada de nada
Oincapnoploque
O que é isto?
Algo de estranho ao desabafo

É algo saturado
Cá dentro
Que tenta sair
Eu, só, uno
Não múltiplo como alguns
Mas múltiplo esse com razão
É demasiado frustrante
Ser-se génio interiormente
E azelha no real

E não é azar como alguém diz
Azar vem azelha
É capaz de ter razão

É apenas o aprofundar de coisas menos importantes
Imortais
Fecha a porta
De mais um dia passado
Ao largo.

4º Capítulo

Consequência lógica de se estar bem
Passam os dias e o mal vem
Não é como dizem as pessoas
Depois da tempestade vem a bonança
A realidade é outra
Depois da bonança chega a tempestade

Esta é que é a minha realidade
Não que o meu mundo hoje
Esta mal ou inferiorizado
Bem pelo contrário
Ser hoje está animado

Só a reflexão mundial me destrói
Só guerras, fome e pragas
O fim do mundo está próximo
Se não natural
Humanamente é real

Coloca-te no lugar de alguém
Vê as coisas como ele vê
Vá segue o meu bom conselho
Agora abre os olhos
O que vês
Exactamente
Guerras, fome e pragas
É a mesma destruição em todo o mundo
Não existe ninguém que veja a beleza
A beleza natural dos seres
Dos não seres de tudo
É isto que faz falta

Torna-te eremita do sonho
Aí refugias-te
Mas será o sonho refúgio?
Aí poderá chegar a natureza maligna dos homens
E destruir-te-á os sonhos bons
Matando infantes e tudo
Tudo à sua volta

Música aí está o refugio
Cinema não ou sim
Pensando bem
Tudo tem o lado bom e o lado violento
Tudo é bivalente
Tudo é ambíguo
Absolutamente tudo

Ai minha mãe
Só me saem duques e cenas tristes
O mundo é só um
Contra seis biliões de seres minguados
Que sempre optimizam o estrago

Mas claro as pessoas sabem
Sabem deste ser inóspito
Que é o mundo
Sabem da doença dele
Mas preocupam-se?
Não
É o dinheiro, é o poder
Admito que o poder é um vício
E o dinheiro traz poder

Mas seria tudo melhor sem eles
Não me pensem anárquico
Talvez até seja anárquico
Com um bocadinho de loucura
Que exija uma revolução
Aos seres banais que regem
Que regem o ser enfermo

Uma vez mais
À procura do novo mundo
Reflectido na escrita humana
Já é normal
Apesar de estar farto
Desta complexidade humana
A verdade é que
É crua e nua
É isto e disto não passa

Mas eu sei
Sei que o mundo é mais importante
Que nós
Mas ninguém pensa assim
Ou poucos pensam
Eu pensava e penso
Mas a verdade é que este
Modo de viver
Não traz muitos benefícios
Nós é que temos de importar
Nós primeiro
Aí é que vamos vencer
Nesta sociedade podre
Competitiva como tudo

É nesta sociedade
Que o mal nasce
Logo à partida somos comparados
Somos competidores
Foi dado o sinal de partida
E é onde os menos rápidos
Irão ser dobrados e ultrapassados

É esta competição maligna
Que emborca os seres humanos
Na cerveja, no stress
Onde por fim sairão todos derrotados

E todos cairão
Ao som das trombetas
Todas as sete
Celestes trombetas
Caracóis e lebres
Tudo irá cair
Com a ira do ser
Ser que é
Ser vida
Ser existente ou não
Mas que é real.

5º Capítulo

Vou Divagar
Vou alhear-me do mundo e dos seus problemas
Vou sonhar com portas e janelas
Salas, corredores, seres antigos.

Rodeado de pedra
Espreito lá para fora
Claro que a loucura está acesa
O sol é fraco
O frio de rachar.

Ouve-se o tilintar do metal
Bramidos surdos de homens brutos
Homens realmente Homens, duros
Cavalos, cascos no chão
Gritos de dor

Regressei no tempo
Ali está o pai fundador
Que gloriosamente
Foi conquistando.

A peleja vai rija
Mas claro
Cristãos não podem perder
O senhor nosso Rei não Rei
Tenta a vitória almejada desde sempre
O senhor está connosco.

Rezas para que servem
É para isto?
A vitória segura
Para um mundo melhor.

Ele chega
Ferido, cansado, satisfeito
A peleja foi arrebatada
Faça-se a festa
Matem-se cinco carneiros
Hoje é à farta
À custa dos infiéis.

Mulheres violadas
Prato do dia
Quero ser um nobre
Estirpe não tenho
Coragem sim.

Glorioso Portugal
Acolhe-me sem reservas
Estou aqui para te servir
Sou teu
Apenas teu
Monarcas religiosos.

Avanço no tempo e na peleja
A nau está no seu destino
Haverá riqueza e prestígio
Para estes homens escorbutados.

O Adamastor é vencido
Donos do mundo somos
Vividas
Passadas
Momentos fatalistas.

Prendas
Bugigangas
Extorsão
Ouro
Nós fomos assim
Queremos eliminar o mouro.

Dominem budistas
Seres pacíficos
Crivem-nos de balas
Violem-lhes as mulheres
Aproveitem hoje
Amanhã pode já não haver
Feitoria erguidas
Nobres valores
Pobres valores
Tudo se conjuga para isso
Para o domínio total
Do mundo
Daqui supra Camões grito
Aí vem o Quinto Império.

6º Capítulo

E o meu livro
Prolonga-se
A minha veia artística corre
Chama-se Idianalgo
Sim a minha veia também corre
Corre pelo rio
A minha privação
Segue pela mata
E o meu ser bombeador de sangue.

Sentido musical
Sem coração
Objectivo sem pensar
Colocar-se-á a privação
Acima do desejo
Ascetas privem-me de ensinamentos.

Claro que não
Só quero ser livre
Hoje veia musical
Porque será
Sou assim
Idianalgo.

Mas o sofrimento percorre
Sofrimento
Do fingimento fingido pelo fingidor
Ou seja
O fingimento do fingimento, fingido.

Sem querer plagiar obras alheias
Sinto-me fingidor
A minha cara é uma máscara
Sem dor
Nem amor.

Há uma revelação de alegria
Quero bem sentir
Mas não encontro
Fingidas são elas todas
Aquele ser maligno
Que confessa não valer nada
Quer é diversão
À custa de burricos
Seres masculinos.
Não é verdade?
Digam-me lá
Escrevam-me para
Rua dos sentimentos fingidos
Número treze
Rua da malapata.

Sabe bem
Viver não assim
Só querer.

Beber por ti
Cada vez gosto mais de álcool
É muito bom
Sim, sim, sim
Oh! Orgasmo atinge-me
Ai já me aborrece esta conversa de chacha.

Tenho de ir procurar o existencialismo
Como é possível
Preocuparem-se com isto.

Bom, eu vou estabelecer
A minha filosofia
Na qual eu acredito
Amanhã vos digo
Não leiam hoje ainda
Esperem e... esperem.

7º Capítulo

Mas que abulia eu sinto
A vontade é nula
O estímulo é nulo
O prazer é nulo
Cada dia uma catadupa de prazeres
Que me passam ao lado
Que me quebram e requebram
O movimento e ritmo quotidiano.

Pensando em Álvaro de Campos
Estou aqui só
Angustiado?
Não
Tenho bem a certeza
Apenas só.
Os sons desvanecem-se...
O tic-tac inexorável do relógio
Aumenta o número de minutos
De horas
Acumulados sem aproveitar a vida
Tento...
Repetindo gestos
Milhares de vezes repetidos
O escutar da noite
Da solidão imensa que me abrange
Nesta minha pequenez.

As estrelas
As constelações
Todo este céu esmaga-me
Os sons silenciosos da noite
Aplaudem o meu ser só
A noite bela
Desiluminada
Atrai-me
Lembra-me da minha vida
Dos sons
Dos cheiros
Passados ao lado
À distância das pessoas
Posto de parte
Sempre
Desde a pequenez.

Só!
Será assim que continuarei?
O apocalipse então aproxima-se
O meu apocalipse
A transferência do eu
É opaca
Tento vislumbrar algo...
Vazio sem cor...
Assim se faz uma vida
Normal...

8º Capítulo

Não sei como
Não sei porquê
Mas aconteceu
O gelo
Apenas...
Quebrou.

O ser humano é isto
Quando nós menos queremos
O inesperado acontece
A máscara cai
As defesas também
O pensamento não larga
O algo
O belo
O riso
A vida
A cor.

A chama arde
Perdura
Mas o pior
É a total fraqueza
Perante ela.

Não te impões
Apenas escutas
Sentes-te um frustrado
Pois és desesperado
Não tens confiança
Não tens o que esperas
E lutas até poder
E não podes mais
A mágoa resiste
Sofres
Não controlas
Não podes controlar
Nem a situação
Nem a tua alma
És uma amálgama
De pensamentos
De emoções.

E só pensas
O pior
Foi por pena
Foi por gozo
Tem outro
Deixa-te o coração destroçado.

Não sei
Depois quanto mais te pisa
Menos carinho te dá
Mais choras
Mais sofres
Apenas

E plagiando
Queria ser o ar que escapa do teu sorriso
Queria ser a capa que cobre o teu corpo frio
Queria ser o sangue que te dá vida
Queria ser o sonho
Aquele com quem partilhavas
Tristezas e alegrias.

Mas
Só me sinto só
Sem ti
Dois dias são demais sem ti

Invejo-te
Na capacidade de ignorar
Apenas não consigo deixar de pensar
Em ti
O teu riso
A tua chama de vida
O teu carinho

Adeus
Não sei
Tenho saudades de ti

9º Capítulo

Caminho até à boca do Leão
Olho para o lado
Nada vejo
Só escadas para o vazio
E estruturas de betão.

Nada me dizem de mim
Nada me falam de ti.

Caminho
Para a boca do leão
O espaço é um passo para o vazio
O mundo a dor do perdão

E fico à espera de mim
E fico longe de ti.

Eu sei que
O tempo
Não volta atrás
A teia apanhou-me
A coragem é um curto passo
Perdoa a minha falta
Conhece-me a minha alma
Enfim
Tenta amar-me.

Não te quis deixar
Apenas sem ti
Não consigo
Caminhar

Vive e deixa viver
Quem errou
Errei
Mas o tempo não volta atrás
As atitudes foram tomadas
A teia apanhou-me
E tu não esperaste

Abriste-me o coração
Abriste-me a mente
Agora julgas não
O amor que me deste.

Não
Não sei se foi real
Mas o coração sofre
O pão da alma sofre.

Não quis deixar-te
Entro na boca do leão
Ele devora-me as entranhas
O risco fatal foi pisado
A canção saiu mal
E a morte

Nada me diz de mim
Nada me fala de ti
Errei
Espera por mim.

10º Capítulo

Eu sou tu
Tu és eu
O sonho perdura
Mas o pérfido Deus sabe
O lânguido olhar demonstra
A única acção tomada
Foi um calor
Uma mão
Que não existiram
Uma paixão obscura
De pensamentos crus
De alma e luz
Não percorridos os metros
Ou quilómetros
Tanto faz
Mas a força conduz
Ao incerto
Ao não
À inexistência de ti
Ao calor frio
À mão frouxa
Não me cuides
Não me adores
Não passes o teu
Para mim
Pois assim
Deixo de existir
Pois o meu reflexo
A tua atitude
Só me desgastam
Só me toldam o espírito
Ou talvez não
Não me iludas
Tarde de mais
Não me chames
Eu não te quero
Tu não existes
Tu és um fragmento
Um pedaço
Uma invenção
Não passámos aquele tempo
Não nos amámos
Não nos conhecemos
Não te esperei
Não me esperaste
Não quero
Não posso
Não.

O homem
Fecha-se na sua concha
A mulher abriu-a
Tornando-a mais espessa ao fechar
A dor da repetição
Adensa-se
Eu estar positivamente
Fechado.

Tuesday, March 01, 2005

11º Capítulo

Gelado
Contido
Agastado
Desprovido de emoção
Basicamente
Clinicamente
Morto.

Assim sou eu
Quero ser eu
Gelado
Contido
Já fui
Era bom
Era forte
Não arriscava.

Mas o gelo quebrou
A alma abriu-se
Mas
Basicamente
Clinicamente
Morto.

Porquê?
A carapaça abriu-se
A máscara caiu
Mas
Basicamente
Se estou vivo de aparência
Estou morto
Deixei de lutar
Ou melhor
Tento esbracejar
Chorar
Pedir
Chamar
Mas
Depois de sofrer
Apesar de sofrer ainda
Apenas me tornei
Num zombie
Porque sobrevivo
Não vivo
Tu não deixas
Não puxas
Não queres
Não sei
O mundo é cinzento
Sou setenta e cinco quilos de matéria amorfa
Desprovida de vida
Flutuo na vida.
Acusem-me de irresponsável
Acusem-me de mimado
Ma sei o que podia fazer voltar
À vida
Está ali
Perto
Tão longe
Tão longe

Desisti
Do mundo
Do amor
Da vida
Da ambição.

Quero-te a ti
Só a ti
Como disse o outro
Tu és a lua
Tu és o sol
Tu és a chama
Tu és o calor
Tu és a vida
Tu és
Sobretudo a morte.

Mas só quero que
Sejas a lua
Eu o sol
Sejas a chama
Eu o calor
Sejas o farol
Eu o barco perdido
Sejas a vida
Eu o sangue
Sejas o vinho
Eu o gurozan.

É assim a vida
Não é
O sonho
Não é a felicidade
Não sei se sofro
Pois penso que
Para se sofrer
É preciso felicidade
Ainda que momentânea
Eu
O fantasma
Apenas estou amorfo
Pois não me posso queixar
Que a minha vida
É
Só tormento
Pois não o tenho
Apenas
Eu o fantasma
Que necessita
De ti
Para a vida
Para a morte
Seja o que for
Estou farto
Da vidinha diário
Da incapacidade de me transcender
Da inconsequência
Da impotência
Sobre a vida
E
Sobretudo
Sobre ti.